
primeiro capitulo do लिव्रो
O Estigma da Lऑउचुरा
No ônibusNão era nem quatro horas da manhã quando acordei e me levantei para tomar o ônibus, que deveria, como de costume, passar impreterivelmente, as quinze para cinco। Uma dor sufocante parecia que tirava o meu cérebro do lugar. Um enjôo de morte povoava meu estômago, como se eu tivesse comido a pouco, um urso com pêlo e tudo. Parei em frente ao espelho de meu quarto de pensão e senti que ia morrer naquele momento. Meus olhos avermelhados e quase saltando as órbitas me davam à sensação de que tudo que eu tinha dentro da cabeça deveria sair pelas minhas narinas, em forma de um jato sangue. Procurei por um vidro de "beladona em gotas", mas só encontrei um elixir a base de "éter sulfúrico" que havia comprado dias atrás, para diminuir uma dor na coluna. Enchi o copo com algumas gota e bebi de uma só vez, na esperança de que, se foi bom para uma dor, por certo, para essa também resolveria meu problema.Olhei para o espelho e para mim mesmo e me vi refletido na forma de um corpo que está preste a sucumbir. Mas como trabalhar era preciso. Troquei de roupa de forma corretíssima, para que em minha aparência, nada pudesse ser observado de anormal. Desci para a sala de refeições e tentei engolir um gole café, na esperança de que o medicamento, não encontrasse o meu estomago desprotegido e me trouxesse mais algum outro problema, pior do que esse que já estava me acontecendo.Ganhei a rua e me dirigi para ponto de embarque, que fica há dois quarteirões da pensão, aonde eu habito. Em meio ao trajeto comecei a pensar em mim e na morte, coisa esta, que eu nunca havia parado para pensar em toda a vida. - Tenho trinta anos - pensei -, trabalho em um bom banco e meus dias de pobreza haviam acabado. Há seis meses quando fui transferido para Paris para ser o gerente executivo desta grande corporação, um salto muito grande foi dado em minhas finanças. Poderia até me considerar um homem privilegiado. Não me casei e nem tenho filhos e, isso me dá uma certa preocupação, pois, sei que comigo extingue uma linhagem, na qual meu pai gostaria que se perpetuasse por um longo tempo. E no fim, eu sei que tudo que eu ganhar, não irei deixar para ninguém. Meus pais eu já os perdi havia treze anos atrás, e isso foi um dos acontecimentos tão distante, que têm dias que chego a pensar que nunca os tive. Mesmo assim, eu sou uma pessoa feliz. Não tenho desejos mórbidos, nem quero construir um mundo diferente só para mim. Quando era criança, até que pensava diferente com relação ao amor e queria que ele fosse só meu e que durasse uma eternidade, mas os dias que sucederam a esses, morreram em conflitos entre si.A dor que eu ainda sentia era muito forte quando dobrei a esquina e vi em frente a ponto de embarque, dois vultos conhecidos por minha pessoa: um era o de Jaqueline, moça bonita e afável e que tinha a profissão de caixa em uma loja perto de meu trabalho e o outro vulto, era de Marine, uma colega de viagem, a qual, eu tive o ímpeto de beijar-lhe na boca, transformando-se assim em minha mais ardente namorada.Fixei meus olhos naquela imagem e, em meio à neblina que fazia aquela manhã, senti-me como que se um raio invadisse a minha cabeça e a luz do relâmpago clareasse todo o meu cérebro. Umas das vozes povoaram os meus ouvidos, como se alguém me falasse muito perto e me dissesse nestes termos: - Duvido que ela tenha coragem de lhe dizer!Minha visão por segundos se apagou. Escorei-me na parede e quando tive de volta o pensamento, já estava sendo amparado pelas duas pessoas.- O que está acontecendo com você?- perguntou-me Marine.- Não sei. Sentiu uma coisa estranha, uma espécie de desmaio.- Você está pálido. Devia procurar um médico - comentou Jaqueline com uma expressão no olhar, que dava-me a entender que, eu certamente havia invadido os seus pensamentos.Na verdade, a voz que havia ouvido, parecia que vinha da direção de Jaqueline, só que as palavras não tinham sido articuladas e, sim, chegavam ao meu pensamento, como se fosse um mistos confusos de sons que vai antecipar as palavras que se vai dizer e onde, a impressão passada através do pensamento, não reflete com a mesma veracidade, a percepção original da fala. Era como se eu tivesse a impressão diferenciada da idéia, mas no caso, uma sensação menos viva.Enquanto eu tirava as minhas conclusões a respeito do acontecido, o ônibus se aproximou e parou junto ao meio fio. Pontualmente havia chegado no horário.Ainda acometido pela forte pressão na cabeça, entrei e tomei assento na última poltrona. Caindo pesadamente sobre ela, tudo me tornou mais calmo e suave.Como o ônibus estava quase vazio, Marine sentou-se a meu lado e eu aconcheguei minha cabeça em seu busto. Seu coração parecia que batia dentro de mim. Descobri naquele momento que amava aquela mulher, como na primeira vez em que nos despimos. Dias atrás eu sentia que ela me causava repugnância e agora, no entanto, eu a desejava perdidamente.O barulho alto da buzina de um outro carro que cruzou com o que eu seguia, me fez abrir os olhos e eu assustado levantei a cabeça do colo de Marine, como se meu coração em disparada, quisesse me mostrar à vida. - O que tenho feito de mim?- fiz uma breve indagação - Nada! – solenemente me respondi - A não ser, desejar um paraíso que eu não posso alcançá-lo.Minha visão sobre as pessoas que estavam dentro do ônibus mais parecia um cortejo fúnebre, onde os seres deixam suas marcas de momentos vividos e que ninguém os vê. Minha boca mantinha-se em silêncio e isso me sufocava. Gostaria que me acontecesse naquele momento, alguma coisa de infinito e que eu pudesse me agarrar a Marine, como se ela fosse minha única tábua da salvação. - Não tenho nada, como também não mereço nada. Às vezes me imagino em um romance, onde a mulher que eu amo está tão distante e cujos traços eu não consigo definir, a não ser as suas sombras. - Esse era o meu pensamento. - Meu cérebro parecia estar vazio e, apesar de ter alguém ao meu lado, não tinha praticamente ninguém. Posso me considerar, como uns desses pobres coitados, que um dia mergulhou entre as latas deste ônibus, e entrou, e saiu, e ninguém os reconheceu.Queria gritar um grito novo, onde todos me pudessem ouvir e, me apoderar de tudo que não fosse meu.Antes mesmo que meus pensamentos chegassem ao final, comecei a ter uma espécie de alucinação. - Devia ser um castigo merecido, por haver pensado demais há pouco. – foram estas as minhas conclusões...Os pensamentos que povoam meu cérebro naquele instante, pareciam se emanar dos pensamentos de Marine.Estendeu-se então, ao longo da minha imaginação, um quarto vazio, onde apenas uma luz de vela o iluminava. Uma voz doce e cálida enternecia o ambiente. Uma janela que se abre ao fundo começa a iluminar o corpo de uma mulher. Sem que eu tenha controle sobre os meus pensamentos, penetro a fundo no cérebro de Marine e possuo as suas lembranças como se fossem minhas. Passo a esquecer quem sou. Começo a viver um duplo pensamento. As linhas confusas dos móveis que eu vejo, se embaralham nos meus pensamentos e eu me sinto mais que presente nele. Sou tomado por um súbito arrepio. Vejo Marine entrar no quarto e depois parar em frente a uma poltrona que se afundava nas sombras. Não consigo enxergar a pessoa com quem ela fala. Estou extasiado!Talvez por ela estar de cabeça baixa e olhando para o chão eu não via a pessoa com quem falava, apenas conseguia enxergar os botões que se enfileiram diante de seus olhos. Em dado instante, percebi que suas mãos começaram a soltá-los um a um. Da blusa escura e aberta emergiu seu par de seios que trepidaram diante da luz da chama.Cruzando seus braços por sobre os seios, aproximou-se da pessoa com quem falava, com face corada pela vergonha da nudez. Seus lábios se comprimiam um nos outros, como se eles não tomassem conta do que estava fazendo.Suas mãos correram para os botões da saia e os desabotoou fazendo com que ela caísse lentamente sobre os seus pés. Suas coxas emolduradas pela meias de fina seda arrancaram um suspiro do homem que se prostrava a sua frente. Tirou a anágua, depois o espartilho e por fim a calça que tinha a cor da sua nudez. Aproximando-se ela da lareira eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo e a do fogo que iluminava as suas majestosas formas de mulher, transparentes na luz, mas, como um vulto negro ainda escondido sobre a combinação. Abaixando lentamente as ligas de suas meias; o branco de suas pernas apareceu e incandesceu o ambiente.Como se a sedução ainda não parasse naquele momento, ela soltou os laços que sustinha a combinação presa aos seus ombros ficando nua diante do homem que a consumia com os seus olhos. Mesmo em nossos momentos de total nudez, eu nunca havia imaginado aquela total perfeição das suas formas. Talvez, agora que posso entrar em seus pensamentos e roubar os seus mais escondidos segredos, isso me faz se deliciar com a imaginação, de que alguém mais a deseja como eu. Tudo que sua roupa escondia, ela a colocava diante dos nossos olhos e nos oferecia como uma dádiva divina.Através do seu olhar eu deslizei pela vasta penugem dourada de sua pele fina e que se estendia do colo as virilhas. As dobras de sua cintura amenizavam a queda do meu olhar através dos seus, impedindo que eu visse totalmente os seus pêlos escuros que, reluzindo na escuridão, emolduravam a sua feminilidade, até então tocada, somente, por mim.Quando ela levantou a cabeça e ia dirigir seu olhar para o homem que estava a sua frente, algo muito quente tocou em meu rosto e eu, de súbito abri os olhos. Parecia que todas aquelas imagens sucumbiam dentro de minhas lembranças. Olhei para a mulher que acariciava meus cabelos e vi em seus olhos a dor transbordada em lágrimas.- Por que está chorando?- perguntei como se já não soubesse do acontecido.Estou com vontade! – respondeu-me apenas com simples palavras, para não ter o sofrimento de me confessar que, amava mais alguém, além de mim.No silêncio que fazia interior do ônibus, meus olhos percorreram aquele ambiente mudo, onde as pessoas em total solidão, amarga na lembrança, os tristes ou os alegres momentos em que se vive uma só vez nesta vida; e de forma muitas vezes trágicas...O pensamento é o resultado de milhões de erros e fantasias que crescem e se entrelaçam de um passado.A dor insuportável voltou a se instalar em minha cabeça, como se eu tivesse um carrilhão de sinos dentro dela. Meus olhos vaguearam pelo compartimento do ônibus e meus amigos de viagem tagarelavam cada qual em seu canto, ao passo que eu permanecia calado, escutando o barulho das rodas correndo pelas pedras do calçamento. Ao mesmo tempo em que rememorava a cena da nudez, a velocidade do ôनिबुस fazia com que as minhas lembranças se arremessassem no espaço e eu tinha a sensação de que estava flutuando. Não conseguia acreditar que eu tivesse o poder de penetrar nas lembranças das pessoas e como um ladrão eu pudesse lhe roubar a dignidade e invadir os seus mais secretos desejosDesde agora me sinto mudado. O desespero que eu não teria antes, me provoca uma inquietação. Agora que tenho em mim uma maneira divina de ver as coisas, eu acredito que tudo que esta me acontecendo, não deva ser sem propósitos.Basta olhar para corredor comprido e estreito do ôनिबुस। para compreender que, onde desfilam numerosas poltronas e em cada qual, segue um ser humano dotado de suas verdades e mentiras. Parece para mim que eles buscam numa eternidade, alguma coisa que não seja a solidão de se sentir estar só.Da janela sigo com meus olhos a rua que passa por mim, como se passasse pela primeira vez. Apóio-me no ferro do banco dianteiro e os flashes surgem em minha cabeça com lembranças rápidas dos transeuntes que cruzam meu pensamento. Um barulho que eu não consigo caracterizar, tornou-se pior do que o silêncio. Ouço através das paredes rumores, e de repente minha visão se choca com um novo pensamento. A mulher que se coloca na minha mira está entrando num quarto e eu ouço o farfalhar de seu vestido roçando no assoalho. Procuro a compreensão de seus gestos, mas eles milagrosamente me escapam. Estou tão perto dela que chego a sentir o seu perfume. - As pessoas em que penetro em seus pensamentos, parece-me não saber o que estão fazendo. - Ela vai até a porta e fecha a chave, como se quisesse fugir do mundo que a amedronta e onde os olhos dos passantes a consomem viva com seus desejos. Tenho a sensação de que, apesar da distância, meu corpo procura pelo seu. Quero roubar seus momentos e desvirginar seus mais recônditos segredos.Ela fecha a cortina e a escuridão cai sobre nós. Ela então acende um fósforo e com lentidão sua imagem resplandeceu. Sua mão e seu pescoço alvo apareceram diante de mim e eu não conseguir distinguir seus traços. A madeira da lareira eu ouço estalar e a chama tomou certa proporção. O cômodo fica iluminado somente com a luz que vem de baixo. A mulher começa a passar diante da chama, como uma nuvem diante do sol. Sua silhueta segue na escuridão, como um vestido preso a um varal ao sabor do vento. Seu olhar correu pelo ambiente e certamente seu olhar cruzou com o meu, sem saber que eu a fitava com seus próprios olhos. Parando diante de um espelho ela sorriu. Sua boca vermelha parecia uma maçã ferida. Comecei a senti medo daquela mulher que se escancarava num sorriso. Erguendo o seu vestido até a cintura ela descobriu as suas pernas que se escondiam em suas meias.Um choque marcou meu cérebro, com uma marca feita com ferro em brasa. Ampliando-se na sombra a claridade, eu via seu corpo e sua carne proibida. Por momento esqueci sua alma e seu pensamento. Queria enxergar ainda mais que os seus olhos pudessem me dar o poder. Ela se sentou. Tirou seus sapatos, a meia de seda, e acima do joelho eu via suas grossas coxas, de um branco marmóreo, onde nas trevas, em que o brilho do fogo era meu aliado em consumi-la.Meus olhos disputavam aquela nudez como as trevas disputavam com luz. Meu cérebro era torturado pela ânsia e pelo desejo de vê-la ainda mais nua. Nas sombras de sua calça eu via uma mancha escura e isso nos enlouquecíamos. Eu tinha naquele momento, quase tudo que um homem pode desejar, mas eu queria ver mais. Queria roubar a sua intimidade, seu recato e chegar ao ápice da minha loucura, beijei-la em pensamento e tocá-la de verdade. - Quando se tem uma mulher ao alcance das mãos, nem sempre se faz dela, tudo que se imagina em pensamento, ou que se consegue roubar às ocultas. - Nunca havia chegado tão perto do mistério, que eu cheguei a sentir que ela me tocava. Não havia mais espaço entre nós e, o tempo era tão presente que os ponteiros do relógio jamais rodariam de novo. Ela se colocou diante do espelho e levando as mãos a deslizarem por todas as suas formas fizeram com que seus pensamentos indagasse a si mesma, como se ela tivesse algum defeito e que, por causa disso havia sido abandonada, no altar dias atrás. Vendo que era inteiramente perfeita, tomou novo ânimo em relação à vida e gritou bem alto – Idiota! - Referindo-se ao seu ex-noivo. Realmente ele era um idiota, jamais possuirá, tenho a certeza; um corpo como aquele.De súbito ela levantou da poltrona e desceu do ô
निबुस
. As imagens sumiram de minha cabeça como um fósforo que se apaga levando consigo o inferno da despedida. Eu, nunca mais poderia cruzar com seus pensamentos e que naquele momento nós estivemos tão ligados um ao outro pela pureza da alma e da inocência. Queria correr atrás dela e dizer-lhe que: eu a amava e na carência afetiva em que ela estava certamente me entregaria aquele corpo, que era todo o meu desejo. Uma crise de choro invadiu meu pensamento. Era como se todas as desilusões do mundo tomassem conta de meu sentimento. Ajeitei-me na poltrona e busquei num olhar perdido, as decepções estampadas nos rostos das pessoas que segue ao meu lado, numa trajetória só de ida, onde em nenhum momento, aquele instante voltara. - A nossa alma para nos dar os valores essenciais da vida, coleciona todos os traços do mundo e depois os entrelaçam com nossos erros.
